O comércio mudou radicalmente sua lógica e dinâmica, ao longo da pandemia. Em 2020, na primeira fase de isolamento, os consumidores se viram obrigados a comprar presencialmente apenas alimentos e artigos essenciais; mas com o tempo, tal impedimento fez diminuir a resistência de adquirir outros tipos de produtos pela internet.
Após mais de um ano de pandemia, o E-Commerce assumiu seu protagonismo e abriu espaço para o omnichannel — integração entre as vendas físicas e eletrônicas. Apenas no primeiro trimestre de 2021 (de janeiro a março), o E-Commerce teve aumento de 57,4% (78,5 milhões de compras), em relação a 2020, quando houve crescimento de 72,2% (35, 2 milhões).
Somado ao agravamento da crise econômica e ao aumento do desemprego, que incidiram na queda do consumo e das vendas presenciais, o comércio virtual hoje pode ser aliado ou mesmo um concorrente direto de lojas presenciais. Isso porque os altos aluguéis de lojas físicas e o baixo faturamento já faz com que pequenos comerciantes já pensem em investir apenas em segmentos online.
De acordo com o administrador Emerson Kühl, a tecnologia foi a grande responsável pela transformação comercial. Sobretudo, após a desmistificação de que comprar pela internet era arriscado e também pela comodidade de comprar pelo computador, tablet ou smartphone.
A possibilidade de pesquisar preços e comprar produtos mais baratos pela web, também é outro diferencial lembrado por Kühl para entender os fenômenos que promoveram a transformação do comércio atual. Embora tais possibilidades já existissem antes da pandemia, foi a adesão em massa do consumidor que fez com que mudasse a lógica de mercado.
Entre as transformações no comércio presencial, descritas pelo administrador, estão a redução de espaços físicos e mudança das funções das lojas físicas, que agora funcionam como hubs de distribuição (espécie de armazém ou estoque). Na prática, as lojas dão suporte às vendas virtuais, ao enviar produtos de seus estoques: seja para que o consumidor online possa retirá-los no local, ou mesmo receber em casa mais rápido, por estar na mesma cidade em que ele reside.
“Essa modalidade de operação, em formato de centro de distribuição ou hub, é uma tendência que deve ser ainda mais explorada. Além disso, as operações logísticas também ganharam protagonismo com a melhoria significativa de processos, com muitas inovações como aplicativos multifuncionais que dão a agilidade e velocidade esperada pelo consumidor, além da redução de custos logísticos”, avalia Kühl.
Tendências
Segundo o professor e coordenador da ‘Rede Transparência e Sustentabilidade de Negócios’, do Coppead/UFRJ, Leonardo Marques, a mudança de comportamento do consumidor não passou despercebido pelos shopping centers e proprietários de imóveis comerciais. O esvaziamento de lojas e escritórios tem reduzido o preço dos aluguéis.
Por outro lado, segundo ele, os empreendedores que conseguiram entender a lógica atual de mercado não apenas cresceram com a pandemia, mas já expandem suas redes de lojas, com fins de vendas e também para usá-las como hubs de distribuição. Marques explica que mesmo com o crescimento substancial do E-Commerce, as lojas físicas continuarão existindo, em paralelo à omnicanalidade.
De acordo com o pesquisador, os shopping centers passarão pelas mesmas transformações e precisarão se adaptar ao novo contexto. Projetos de delivery, com reserva para retirada na praça de alimentação ou mesmo no estacionamento dos shoppings (no formato Drive-Thru) são algumas das apostas de Marques.
Além disso, ele ressalta que os shoppings se tornarão centros de serviços e entretenimento, do que propriamente de vendas de produtos. Novos dispositivos eletrônicos propiciarão a mudança.
“No setor de moda, por exemplo, a impressão 3D e outras tecnologias correlatas darão às lojas físicas condições de se tornarem espaços do consumidor. Com isso, o cliente poderá tirar suas medidas e depois encomendar online, da loja mesmo, suas peças customizadas”, adianta.
Marques diz que outra tendência deverá ser o uso dos carrinhos físicos inteligentes (dos supermercados); eles lerão os códigos dos produtos quando colocados dentro dele. Desta forma, diminuirá o contato físico e o consumidor terá uma ideia de quanto pagará com antecedência. A tendência da venda mais enxuta deverá ser outro diferencial para aqueles que não têm paciência para longos períodos de compras. “Uma pessoa que sai do trabalho, e está sem tempo, vai entrar em um mercado apenas se a experiência for extremamente enxuta, caso contrário vai preferir comprar online”, revela.
FONTE: SANTOS, L. REVISTA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO, ANO 32 Nº 142 MAIO/JUNHO 2021 p. 50-53.
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