No âmbito da Administração, muito se fala em mindset. Expressão de origem inglesa, ela caiu no gosto dos profissionais brasileiros de gestão, como sinônimo de inovação e de algo positivo. De acordo com o dicionário Cambridge, produzido pela universidade britânica de mesmo nome, mindset significa “a forma como uma pessoa expressa seus pensamentos e opiniões”. Na mesma linha de pensamento, a pesquisadora da universidade de Stanford (nos EUA), Carol Dweck, em seu livro ‘Mindset: A nova psicologia do sucesso’ vai além e explica por que tal atitude mental pode influenciar positivamente a vida pessoal e profissional.
Para Dweck, a maneira como cada pessoa lida com as situações do dia a dia molda as possibilidades que resultam no êxito ou no fracasso de uma ação. Ela identificou dois principais tipos de mindset: o fixo e o de crescimento. No mindset fixo existe a ideia de que a cultura pessoal, ou a maneira de ser ou pensar, não muda. A mentalidade permanece invariável, de forma consciente e inconsciente, bem como as características próprias, tais como inteligência, bom humor e criatividade.
Nele, o sucesso não seria, portanto, desenvolvido ou aprimorado, seria algo estático que depende do talento natural e individual de cada um.
Já no mindset de crescimento tudo pode ser aprendido e desenvolvido, e eventuais adversidades criariam oportunidades para superar obstáculos e gerar aprendizado. O fracasso é visto como um desafio e uma oportunidade de autodesenvolvimento, e o potencial individual pode ser ampliado.
De acordo com o diretor de desenvolvimento de talentos da consultoria LHH, Alexandre Marins, é possível mudar ou desenvolver um novo mindset. No entanto, o processo deve começar pela tomada de consciência (autoconhecimento), no qual o indivíduo descobre qual é sua tendência natural ou atitude mental frente a determinadas situações.
“Antes de tudo, é preciso questionar o próprio comportamento, se perguntando: ‘Estou sendo rígido, crítico ou mesmo apegado a olhar as coisas sempre pela mesma ótica?’, ou mesmo, ‘Eu tendo a ser aberto a investigar novas possibilidades, ideias, pensamentos e contribuições diferentes das minhas?’”, exemplifica Marins.
CULTURA ORGANIZACIONAL
De acordo com o especialista em gestão estratégica de pessoas, Roberto Aylmer, é preciso ter claro sobre o que é mindset, para quê ele serve e por que é imprescindível para o crescimento das empresas. Ele diz que além de estimular o autodesenvolvimento e a flexibilidade dos colaboradores, o mindset de crescimento também impulsiona o ambiente rumo à inovação.
Para alcançar tal objetivo, a cultura organizacional também precisa estar aberta a receber ‘o novo’ e saber lidar com os diferentes pontos de vista, em prol de um objetivo maior. Segundo ele, o sucesso do passado pode ser um obstáculo a mudanças, por isso, deve ser observado com racionalidade.
“Quando o jogo muda, é preciso alterar a estratégia. Mas, nesse caso, o próprio sucesso do passado pode ser um bloqueio para a mudança atual. A a empresa se vê obrigada a repensar suas posturas e se transformar diante de crises”, pontuou. Medo de errar Embora seja traduzida como ‘maneira própria de pensar e de se posicionar (agir), diante de diferentes situações’, o mindset não é absoluto. Cada pessoa pode externar atitudes voltadas tanto ao tipo “fixo” ou mesmo ao de “crescimento”, conforme a situação.
Segundo Marins, embora seja desejável o mindset de crescimento, as organizações e os líderes precisam levar em conta, também, as características do tipo fixo que cada colaborador carrega dentro de si. O conservadorismo e a rejeição ao novo têm relação com as experiências (próprias) e culturas individuais.
O resultado geral, da relação entre cada um dos tipos, moldará aquilo que é predominante na organização. Independente do perfil da organização existe sempre a necessidade de inovação e adaptação. Deste modo, para incrementar algo novo é preciso dar margem a erros, sem punições ou atitudes coercitivas.
“Vale destacar que para uma cultura ser pautada em um mindset de crescimento, precisamos que haja não só abertura, mas também um clima de segurança psicológica, como uma forma de rede de sustentação que permitirá às pessoas se lançarem ao novo. Deste modo, elas lidam e aprendem por meio de suas experiências e eventuais erros, tirando sempre aprendizados para a melhoria contínua. Isso é evolução”, sentencia.
FONTE: SANTOS, L. REVISTA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO, ANO 32 Nº 140 JANEIRO/FEVEREIRO 2021 p. 20-23.
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