Desde que o
vírus chegou ao território nacional é um fenômeno sem perspectiva de controle
pandêmico, até o momento, os números são indícios de outro dado que pode ir
além da realidade acima. Cientistas brasileiros alertam que o País ainda não
chegou no pico da contaminação, o que deverá acontecer no final de abril.
A trajetória da
doença tem início após a primeira divulgação sobre a descoberta do novo
Coronavírus, em Wuhan (China), no dia 31 de dezembro de 2019. Menos de um mês
depois, dia 21/1, a OMS emitiu alerta mundial sobre o risco de pandemia.
Em 26 de
fevereiro, o Brasil registrou seu primeiro infectado pela doença. Mesmo após
alerta sobre a possibilidade de contaminação mundial, e o risco representado
pelo vírus, o clima de normalidade imperava no País. A Covid-19, embora tenha
parado o mundo no primeiro trimestre de 2020, evidenciou problemas já
conhecidos há mais de cem anos pelos brasileiros. Entre eles, destacam-se a
falta de infraestrutura e má gestão em áreas como Saúde e Planejamento.
Para o professor
Lúcio Pinho, da área de gestão de risco, a pandemia da Covid-19 foi subestimada
pelas autoridades brasileiras. Ele destaca a temporalidade entre as datas de
descoberta da doença, o alerta da OMS sobre a pandemia e a reação brasileira,
tardia e descoordenada, como alguns dos problemas de gestão pública nacional.
“Devido
às dimensões continentais do Brasil, era fundamental já ter antes um plano de
gestão de riscos, antes mesmo de a doença ter chegado ao País. O tamanho do
território, da nossa população (cerca de 210 milhões de brasileiros) e os
problemas que já conhecemos dificultam tudo, e nos fazem ter de agir muito
antes para conseguir resolver a questão”, diz.
Pinho explica
que embora sejam temas interligados, gestão de risco e gestão de crise são
assuntos distintos. Segundo o profissional, o gerenciamento de risco é um
conjunto de atividades voltadas para identificação, análise, avaliação,
registro e, sobretudo, tratamento de situações. É, também, uma adoção de
medidas que reduzem, ou que mantém os riscos em níveis aceitáveis, e traz remediação
caso os riscos se materializem.
Já a gestão de
crise se refere a procedimentos administrativos que as organizações públicas e
privadas pretendem ou devem adotar, caso um risco anteriormente identificado se
materialize em atividade crítica. “No caso, por exemplo, de um desabastecimento
da rede elétrica em hospitais que realizam cirurgias — e que pode levar
pacientes ao óbito —, o plano de gerenciamento de crise prevê a instalação de
geradores de energia para suprir eventuais faltas de energia”, complementa.
O professor
enfatiza, ainda, que a gestão de crise identifica possíveis eventos (internos e
externos) que podem impactar nas organizações. Também prevê e oferece
remediação apropriada por meio de processos que minimizarão danos financeiros,
humanos, patrimoniais e culturais.
O QUE FAZER?
De acordo com o
professor de Administração, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), Aragon Dasso, uma vez que o vírus já chegou ao Brasil, a prioridade
deveria ser aplicar o plano de gestão de crise — também chamado plano de
contingenciamento. Para Dasso, que é especialista em políticas públicas, a
principal medida a ser tomada, inicialmente, seria disseminar
informações
sobre a Covid-19, de maneira clara e precisa.
Explicações
sobre como o vírus é transmitido, os sintomas característicos da doença, e como
ele age no corpo, são exemplos de informações úteis que deveriam ser aplicados
para erradicar ou diminuir a contaminação.
Além disso,
dados sobre as chances de contágio e de recuperação do paciente — de acordo com
a idade, estado clínico e profissão — também são úteis para que a população
assimile a real conjuntura da pandemia.
“O
plano de contingenciamento deve ser primariamente informativo, pois evitar a
proliferação do vírus exige um esforço de cidadania. Para que as pessoas saibam
como agir, é fundamental que possua informação clara e intensa. Sem orientação,
sem boa comunicação, não é possível fazer nada”, diz Dasso. Já na visão da
doutora em Administração e membro do Grupo de Excelência de Gestão em Saúde do
CRA-SP, Teresinha Covas Lisboa, embora o Brasil tenha profissionais
qualificados — nas áreas de administração e de saúde —, o problema vai muito
além da pandemia causada pela Covid-19. Segundo ela, o histórico de
descontinuidade de políticas públicas, voltadas ao segmento, interfere na
eficiência e eficácia da Saúde no País.
Para Lisboa,
atualmente não há um planejamento em longo prazo para o setor. Ela enfatiza que
o Brasil já passou anteriormente por situações graves de saúde pública e, por
isso, o plano deveria contemplar as experiências vividas em crises anteriores.
“É
claro que o momento é muito delicado e ímpar, mas se houvesse um alinhamento
dos setores público e privado, bem como políticas públicas efetivas, a situação
seria melhor administrada e diferente. Isso poderia ser obtido por estratégias
coordenadas entre nossos dirigentes”, avalia.
Para a
professora, pesquisadora e editora-chefe da Revista Eletrônica de Administração
da UFRGS, Maria Ceci Misoczky, especialista em Gestão de Saúde, um dos gargalos
está em dispositivos legais, criados nos últimos anos, que geraram efeitos
danosos ao sistema público de saúde. Ela dá como exemplo a Emenda
Constitucional (EC) 95, de dezembro de 2016, que limitou os gastos públicos por
20 anos e afetou o investimento no setor.
“A
consequência óbvia é que setores essenciais para enfrentar uma situação como a
pandemia do novo Coronavírus — como o da Saúde, da Educação, da Ciência e da
Tecnologia — sofrem hoje impactos negativos, resultantes da EC.
Portanto, não se trata exatamente de um problema de gestão da saúde, mas de
definições político-institucionais que têm efeitos adversos sobre as
organizações e sua gestão”, acrescenta a professora.
A doutora em
Administração e especialista em Gestão em Saúde, Teresinha Lisboa, lembra,
ainda, que a pandemia apenas trouxe à tona problemas que são resultados de
décadas de falta de investimentos no Brasil.
Ela destaca,
sobretudo, a Educação como fator primordial para combater qualquer tipo de
crise. “Há falta de leitos hospitalares, material
cirúrgico, equipamentos de proteção individual e treinamentos; tudo isso são
alguns pontos que precisam ser revistos. Mas, antes de tudo, o que faz toda
diferença em uma situação dessas é a educação do povo em geral, pois ela norteará
sobre como evitar a doença e como comportar-se diante da situação”, sentencia.
FONTE: REVISTA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO, ANO
31 Nº 135 MARÇO/ABRIL 2020. p. 40-45.
RESENHANDO:
Estamos em Agosto de 2020 e já se passaram 8 meses, desde que foi descoberto
o no novo vírus que vem matando muita
gente por todo mundo. Atualmente os dados são. O Brasil, como a reportagem
aponta, teve tempo pra se preparar economicamente e principalmente na área da
saúde, mas os governantes viram que seria melhor não divulgar nada a primeiro
momento. Então veio a maior festa popular do país e fez a doença avançar mais e
mais. Todos os setores do governo foram afetados. Toda população do mais pobre
ao mais rico, também foram afetados de alguma forma. Mesmo com planos emergenciais
a crise na saúde e na economia são claras. E não bastasse essa doença, sem cura até o momento, nosso
país passa por uma crise civil. O que
temos que pensar são em formas de ajudar a população mais vulnerável,
orientando e auxiliando até tudo se estabilizar. Sabe-se que ainda teremos um
longo período até se encontrar a cura, até lá, traçar metas para pós – pandemia
é a melhor opção.
ADM. CLAUDILÂNYO GONÇALVES
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