A
luta de classes entre patrões e empregados se transferiu para o íntimo
de cada trabalhador. Não mais se dá por meio da mediação, da negociação e do
dissídio dos sindicatos. Esta é a razão intrínseca do desprestígio dos
movimentos sindicais em todo o mundo. A nova realidade cotidiana do universo
das organizações transforma o trabalhador numa espécie de empregador de si
mesmo. O profissional emprega o corpo e entrega a alma ao trabalho. É cada vez
mais presente que a histórica luta de classes entre capital e trabalho, tão bem
descrita por Marx, transfere-se hoje para o interior do indivíduo como pessoa.
A série de suicídios que ocorrem nas mais diversas corporações em todo o mundo
é uma das mais deletérias consequências da forma de organização do trabalho
produzida para atender às novas necessidades da sociedade de mercado, que
muitos no mundo globalizado denominam de neoliberal.
O FORDISMO JÁ NÃO REGE A
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO… MUITO MENOS AS DESCOBERTAS DAS CIÊNCIAS DO
COMPORTAMENTO HUMANO.
Os princípios da Administração
Científica tão bem sustentados originalmente por Ford, Taylor, Fayol, Gulick e
muitos outros já não mais parametrizam a organização do trabalho e a gestão das
organizações. Nem o fazem os postulados da Pesquisa de Hawthorne, marco
determinante da Escola de Recursos Humanos e dos avanços daí decorrentes que
redundaram no desenvolvimento das ciências do comportamento humano no trabalho.
Durante todo esse tempo, ou seja, até o segundo terço do Século XX, os
sindicatos se batiam preponderantemente para reduzir as jornadas de trabalho,
para aumentar os salários e para conquistar novos benefícios e vantagens
extra-salariais; e, em menor escala, tentavam controlar as condições de
trabalho pela via das negociações e dos dissídios coletivos. Mas, de forma
alguma, atuavam diretamente nos processos e procedimentos que se passavam por
dentro do próprio trabalho, na natureza ou na essência do trabalho em si mesmo.
Este foi o sistema produtivo que permitiu grandes avanços da humanidade ao longo
do século passado, o florescimento da sociedade de consumo, o desenvolvimento
econômico das nações e a melhoria substantiva da qualidade de vida de parcelas
expressivas da população mundial. Contribuiu também, claro, para aprofundar e
para explicitar as desigualdades e disparidades socioeconômicas existentes
entre nações, dentro das próprias sociedades e entre os indivíduos. De forma
alguma, no entanto, as ações de representação sindical tratavam do percurso
existencial dos trabalhadores como pessoas e por onde se oxigenavam e se
renovavam como seres humanos. Bem, pelo menos até os primeiros resultados das
investigações científicas da Fábrica de Hawthorne, da Western Electric, e dos
avanços posteriores das ciências do comportamento humano nas organizações, como
já acima destacado.
OS TRABALHADORES RESPIRAVAM O AR
PURO DA RENOVAÇÃO HUMANA FORA DO TRABALHO...
Os trabalhadores se dedicavam
exaustivamente a seus trabalhos, em duras jornadas laborais, mas se oxigenavam
fora dele, ou melhor, respiravam a renovação e a restauração humana fora das
organizações em que trabalhavam, bem distantes do que realizavam no cotidiano
em suas estafantes jornadas laborais. Respiravam o ar puro da renovação
existencial pela participação intensa em instâncias externas ao trabalho, como
associações comunitárias diversas, ativa vida social e religiosa, e,
principalmente, a própria família. Essas
eram as suas válvulas de escape de oxigenação. Através do salário e do emprego
podiam ascender ao mundo, participar da vida social de suas comunidades,
garantir qualidade de vida às suas famílias, integrar-se em plenitude ao
universo civilizatório da sociedade em que viviam. Eram objeto e sujeito de
amor e de trocas afetivas, de relações e de ambientes sociais, de participação
e de pertencimento. O trabalho era, de fato, o divino castigo que deveriam
cumprir ou o preço a ser pago para desfrutar de uma vida em plenitude fora
dele. Agora, já não mais respiram e se oxigenam existencialmente como faziam
antes. As exigências crescentes das novas formas de organização da sociedade de
mercado seqüestram as alternativas de dedicação a outras formas distintas de
convivência humana, na família e nas associações formais ou informais da
comunidade nas quais antes integravam e participavam ativamente.
Os suicídios e a s seqüelas
psicológicas dos trabalhadores no universo da sociedade e no mundo das
organizações são o grito de desespero dos que sucumbem pela impossibilidade de
restauração humana. É um desvio equivocado de percepção atribuir simplesmente a
razões individuais isoladas a incidência recrudescente de casos de suicídios e
de síndromes de burn out ocorrentes no mundo do trabalho em geral. São o grito
de revolta ante uma situação que ultrapassa os limites do equacionamento
individual para se transformar numa epidemia social. O suicídio e as doenças
laborais psicológicas abrem uma fresta para o trabalhador respirar, mudando a
sua realidade de um ambiente contaminado irrespirável. O que se suicida nos
convoca para ver o que é visível, mas não é visto: a nova organização do
trabalho não está consciente de que produz mortos-vivos, verdadeiros zumbis
fanatizados pelo trabalho, trabalhadores devotos à organizações, agora
transformadas em seitas de adoração.
Apesar do discurso da
imprescindibilidade e da importância da equipe na obtenção da excelência de
resultados, nunca se praticou tanto a avaliação individual. A exacerbação do
cumprimento de metas individuais de desempenho agrava e aprofunda a dissensão
entre colegas, viola o princípio da solidariedade e da cooperação subjacente no
trabalho, devasta ambientes sociais, exacerba o egoísmo e a competitividade
predatória de um contra um, de um contra alguns, de um contra todos e de todos
contra todos.
A NOVA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
PRODUZ A FRATURA EXISTENCIAL DO COLABORADOR…
A avaliação individualizada
produz uma divisão no interior da pessoa, entre a necessidade de cumprimento
individualizado de metas e as necessidades de apoio, de solidariedade e de
cooperação
inerentes à natureza humana
próprias de pessoas envolvidas na realização de tarefas comuns. O trabalhador
termina por se transformar numa espécie de empregador de si mesmo, um
empreendedor interno da organização, como de forma eufemística as diretrizes
ditas modernas de gestão de pessoas manipulativamente gostam de chamá-los. Se
antes já se dizia que os trabalhadores já não tinham razão para se sentirem em
contradição com a organização, porque os interesses poderiam ser
compatibilizados ou administrados pela aplicação das boas teorias gerenciais, agora
o assalariado se transforma em seu próprio patrão, no empregador de si mesmo. É
a resposta incisiva da sociedade de mercado ao problema da luta de classes,
sempre presente entre capital e trabalho, entre salário e lucro, entre as
necessidades do empregador e do empregado. Se os trabalhadores já não tinham
mais razão para se sentirem em contradição com o capital, como doutrinavam as
teorias das organizações, agora fazem do assalariado o seu próprio patrão, o
empregador de si mesmo, o empreendedor interno do negócio em que trabalha. Já
não há mais luta de classe, os interesses intrínsecos de ambas as partes se
concentram indiviso no íntimo de cada trabalhador como pessoa. Eis ai um
sofisma de falsa causa. Em verdade, tanto o capital, agora travestido massivamente
de capital financeiro, quanto o trabalho continuam plenamente presentes. Apenas
agora o conflito entre salário e lucro, entre capital e trabalho, transbordou
para um antagonismo social a ser equacionado e resolvido no interior do próprio
indivíduo.
Antes, o conflito social estava
regulado pelas mediações sindicais entre patrões e empregados, por normas e
regulamentos legais de governo, pela ação direta do Estado, principalmente
pelas decisões dos tribunais de justiça. É evidente que estas condicionantes
institucionais ainda subsistem, mas não
mais como protagonistas
exclusivos da resolução de querelas entre patrões e empregados. Agora o conflito se encontra intensamente
dentro do trabalhador como pessoa. E é exatamente a incapacidade de as pessoas
administrarem esse conflito interior que tem no suicídio e nas sequelas
psicológicas do trabalho a sua válvula de escape, a solução dramática de um
impasse inusitado que
não vislumbra alternativas de
equacionamento ganha/ganha se mantido o quadro de circunstancias da ideologia
dominante de organização do trabalho prevalecente nos tempos presentes na
sociedade de mercado.
OPINIÃO DO AUTOR
No cenário em que as empresas se
encontram notamos a evolução que sofreram desde quando foi regulamentado as
leis que estabelecem o conceito jurídico. O trabalhador do século XXI tem uma
ideologia voltada para a culpa, principalmente, se não atingem as metas na
empresa. Muito disso é devido a grande pressão psicológica, onde acabam
cometendo o suicídio, por justamente não saber lidar e nem ter a capacidade de
resolver conflitos. O mercado de trabalho exige capacidade e qualidade dos
trabalhadores, e muitos até têm, entretanto, se tornam fraco diante dos
problemas e acabam desistindo. Estamos na Era do Imediatismo somado a
tecnologia que faz com que o mundo cresça mais e mais; exigindo das empresas
mais inovação e criatividade para se manter no mercado.
ADM. CLAUDILÂNYO GONÇALVES

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