Realidade atual em todo o
mundo, o trabalho remoto ganhou nova importância durante a pandemia de
Covid-19. Impossibilitados, inicialmente, de exercer suas funções em modo
presencial, funcionários foram deslocados a trabalharem de forma remota, como
único recurso para desenvolverem suas atividades.
Sem treinamento prévio e, por vezes,
sem diretrizes organizacionais que disciplinassem as metodologias de trabalho,
o novo cenário surpreendeu instituições e colaboradores, devido ao imediatismo
dos fatos. Em meio à crise sanitária, a tecnologia e os meios de comunicação
municiaram empresas a não terem suas atividades paralisadas em sua
totalidade. Embora pareçam termos semelhantes, para a mesma finalidade,
teletrabalho e home office possuem diferenças legais, segundo a administradora
e pesquisadora em Gestão Estratégica de pessoas, Patricia Whebber.
Segundo ela, o teletrabalho se caracteriza
pela prestação de serviços fora das dependências da organização, com uso de
recursos de tecnologia da informação: podendo ser realizado em casa, em
escritórios compartilhados ou em local externo ao ambiente da empresa. “Já
o home office é uma modalidade de teletrabalho, cujas atividades são
desenvolvidas na residência do colaborador. Seu conceito-chave é a
flexibilidade, deste modo, o foco do trabalho está nos resultados e não no
controle do comportamento do colaborador”, explica Patricia.
TENDÊNCIAS
De acordo com o doutor em
administração e pesquisador, Ronald Pires, há pontos que precisam ser
estabelecidos antes de implementar programas de teletrabalho nas empresas, tais
como a necessidade de definição de metas, prazos e entregas. Além disso, é
necessário redefinir o controle de frequência e excluir da modalidade as
atividades tipicamente presenciais, tais como atendimento público interno ou
externo.
Ele diz que modalidades
de trabalho existentes antes da pandemia já apresentam intensificação de
atividades a distância. Nesse contexto, aspectos da nova ordem econômica que se
formou — fomentada pelos avanços tecnológicos e suas diferentes ótimas — não
retrocederão, ao contrário, devem proporcionar o aumento da nova tendência. “O
uso da web para fazer negócios e as distintas maneiras de trabalhar serão uma
constante de hoje em diante. Tem havido um câmbio de ocupações, com profissões
que estão em extinção, outras surgindo e um terceiro grupo sofrendo, cada vez
mais, novas mutações”, analisa Pires. Já no caso do serviço público, Patricia
acredita que existe perspectiva de modernização das relações de trabalho, caso
haja cultura de resultados, alicerçada na flexibilidade e na autonomia das
realizações do trabalho. Corretamente empregada, a nova modalidade traria ao
Estado maior redução de custos, melhoria da produtividade e mais qualidade de
vida aos servidores.
“Uma nova tendência será
o trabalho híbrido, momentos ou situações em que as atribuições serão
realizadas nas dependências físicas da empresa. Ou também atividades que serão
realizadas remotamente”, diz.
INDÍCIOS
Segundo pesquisa
realizada pela consultoria Robert Half — antes e durante a pandemia, com 620
profissionais brasileiros —, 86% dos entrevistados disseram que as empresas
deveriam adotar, em definitivo, novas maneiras de trabalho. Entre as
modalidades a principal foi o trabalho remoto. O estudo mostrou que antes da
pandemia apenas 35% dos profissionais trabalhavam em home office, número que
subiu para 95% após a crise sanitária. Os entrevistados também consideraram o
modelo como exercício laboral comum, e não como um benefício, em razão do
estabelecimento de metas rígidas.
A pesquisa mostra, ainda,
que 49% acreditam que o futuro do trabalho será mais em casa do que na empresa.
Para Vitor Silverio, gerente de recrutamento da consultoria Robert Half, há
indícios de que os negócios mudarão suas formas de funcionamento após a
pandemia. “Estamos passando por um processo de transição, em que buscamos
compreender os reais impactos do modelo de trabalho remoto. As relações de
trabalho foram completamente impactadas pela necessidade de distanciamento
social, de forma que os empregadores tiveram que aprender a gerir, à distância,
tanto a produtividade quanto a motivação e o bem-estar de seus colaboradores”,
avalia Silverio.
VISÃO DAS
EMPRESAS
De acordo com a diretora
de soluções digitais da empresa Stefanini (de tecnologia), Giuliana Veronese, o
home office deverá mudar o mercado de trabalho, tanto em instituições públicas
quanto privadas. Entre as tendências previstas para o serviço público estão a
forte redução do número de escritórios, digitalização de serviços e redução no
número de funcionários. Já entre as empresas particulares, Giuliana se baseia
em pesquisa denominada Future Trends Digital Workplace, da consultoria Gartner,
para apontar outras tendências que moldarão o futuro. A primeira tendência
seria o que chamou de democratização das oportunidades de trabalho, com pessoas
que moram no interior disputando vagas, remotas, em empresas de grandes
centros. “Na mesma linha, haverá forte interiorização das vagas, com as
empresas buscando candidatos em diferentes cidades, independente da região,
estado ou país. Sem a presença física, haverá, ainda, um ambiente mais
inclusivo e com maior diversidade: independente de gênero, raça, idade ou
características particulares de outras minorias”, avalia.
FONTE: SANTOS,
L. REVISTA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO, ANO 31 Nº 138
SETEMBRO/OUTUBRO 2020 p. 28-33.

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