segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

TRABALHO A DISTÂNCIA: VANTAGEM, TENDÊNCIA OU MODISMO? - ANO 06 - EDIÇÃO 66 - JANEIRO DE 2021



Realidade atual em todo o mundo, o trabalho remoto ganhou nova importância durante a pandemia de Covid-19. Impossibilitados, inicialmente, de exercer suas funções em modo presencial, funcionários foram deslocados a trabalharem de forma remota, como único  recurso para desenvolverem suas atividades.

Sem treinamento prévio e, por vezes, sem diretrizes organizacionais que disciplinassem as metodologias de trabalho, o novo cenário surpreendeu instituições e colaboradores, devido ao imediatismo dos fatos. Em meio à crise sanitária, a tecnologia e os meios de comunicação municiaram empresas a não terem suas atividades paralisadas em sua totalidade. Embora pareçam termos semelhantes, para a mesma finalidade, teletrabalho e home office possuem diferenças legais, segundo a administradora e pesquisadora em Gestão Estratégica de pessoas, Patricia Whebber.

 Segundo ela, o teletrabalho se caracteriza pela prestação de serviços fora das dependências da organização, com uso de recursos de tecnologia da informação: podendo ser realizado em casa, em escritórios compartilhados ou em local externo ao ambiente da empresa. “Já o home office é uma modalidade de teletrabalho, cujas atividades são desenvolvidas na residência do colaborador. Seu conceito-chave é a flexibilidade, deste modo, o foco do trabalho está nos resultados e não no controle do comportamento do colaborador”, explica Patricia. 

TENDÊNCIAS

De acordo com o doutor em administração e pesquisador, Ronald Pires, há pontos que precisam ser estabelecidos antes de implementar programas de teletrabalho nas empresas, tais como a necessidade de definição de metas, prazos e entregas. Além disso, é necessário redefinir o controle de frequência e excluir da modalidade as atividades tipicamente presenciais, tais como atendimento público interno ou externo.

Ele diz que modalidades de trabalho existentes antes da pandemia já apresentam intensificação de atividades a distância. Nesse contexto, aspectos da nova ordem econômica que se formou — fomentada pelos avanços tecnológicos e suas diferentes ótimas — não retrocederão, ao contrário, devem proporcionar o aumento da nova tendência. “O uso da web para fazer negócios e as distintas maneiras de trabalhar serão uma constante de hoje em diante. Tem havido um câmbio de ocupações, com profissões que estão em extinção, outras surgindo e um terceiro grupo sofrendo, cada vez mais, novas mutações”, analisa Pires. Já no caso do serviço público, Patricia acredita que existe perspectiva de modernização das relações de trabalho, caso haja cultura de resultados, alicerçada na flexibilidade e na autonomia das realizações do trabalho. Corretamente empregada, a nova modalidade traria ao Estado maior redução de custos, melhoria da produtividade e mais qualidade de vida aos servidores.

“Uma nova tendência será o trabalho híbrido, momentos ou situações em que as atribuições serão realizadas nas dependências físicas da empresa. Ou também atividades que serão realizadas remotamente”, diz.

INDÍCIOS

Segundo pesquisa realizada pela consultoria Robert Half — antes e durante a pandemia, com 620 profissionais brasileiros —, 86% dos entrevistados disseram que as empresas deveriam adotar, em definitivo, novas maneiras de trabalho. Entre as modalidades a principal foi o trabalho remoto. O estudo mostrou que antes da pandemia apenas 35% dos profissionais trabalhavam em home office, número que subiu para 95% após a crise sanitária. Os entrevistados também consideraram o modelo como exercício laboral comum, e não como um benefício, em razão do estabelecimento de metas rígidas.

A pesquisa mostra, ainda, que 49% acreditam que o futuro do trabalho será mais em casa do que na empresa. Para Vitor Silverio, gerente de recrutamento da consultoria Robert Half, há indícios de que os negócios mudarão suas formas de funcionamento após a pandemia. “Estamos passando por um processo de transição, em que buscamos compreender os reais impactos do modelo de trabalho remoto. As relações de trabalho foram completamente impactadas pela necessidade de distanciamento social, de forma que os empregadores tiveram que aprender a gerir, à distância, tanto a produtividade quanto a motivação e o bem-estar de seus colaboradores”, avalia Silverio.

VISÃO DAS EMPRESAS

De acordo com a diretora de soluções digitais da empresa Stefanini (de tecnologia), Giuliana Veronese, o home office deverá mudar o mercado de trabalho, tanto em instituições públicas quanto privadas. Entre as tendências previstas para o serviço público estão a forte redução do número de escritórios, digitalização de serviços e redução no número de funcionários. Já entre as empresas particulares, Giuliana se baseia em pesquisa denominada Future Trends Digital Workplace, da consultoria Gartner, para apontar outras tendências que moldarão o futuro. A primeira tendência seria o que chamou de democratização das oportunidades de trabalho, com pessoas que moram no interior disputando vagas, remotas, em empresas de grandes centros. “Na mesma linha, haverá forte interiorização das vagas, com as empresas buscando candidatos em diferentes cidades, independente da região, estado ou país. Sem a presença física, haverá, ainda, um ambiente mais inclusivo e com maior diversidade: independente de gênero, raça, idade ou características particulares de outras minorias”, avalia.


FONTE: SANTOS, L. REVISTA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO, ANO 31 Nº 138 SETEMBRO/OUTUBRO 2020 p. 28-33.


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