O mercado de trabalho mudará, mas muita gente ainda não percebeu. Segundo estudo realizado pela Dell Technologies, e conduzido pelo Institute for the Future, 85% das profissões que serão praticadas em 2030 ainda não foram inventadas. Longe de ser futurologia, especulação ou mero palpite, a pesquisa baseou-se em fenômenos que já vêm acontecendo, tais como mudanças no mercado de consumo, inovações tecnológicas atuais — geradas, sobretudo, pela indústria 4.0 — e transformações socioeconômicas, ocorridas em diferentes países do mundo. Isso significa que seu filho provavelmente trabalhará em algo que ainda não existe, mas estará ligado à 'economia criativa'.
O conceito é novo e emergiu no final do século 20. A
'economia criativa' é um conjunto de empreendimentos que se baseiam no tripé
que inclui capital intelectual, cultural e criatividade. O segmento já é
responsável por cerca de 3% do PIB mundial (cerca de US$ 2,25 trilhões em
receita), de acordo com relatório de 2015, da ‘Organização das Nações Unidas
para Educação, Ciência e Cultura (Unesco)’ em parceria com a consultoria EY. No
Brasil, o setor deverá ter crescimento de 4,6% até 2021, segundo dados da consultoria
PricewaterhouseCoopers (PwC).
O valor é acima da média mundial para o setor — estimado
em 4,2%. A previsão é de que a Economia Criativa gere 30 milhões de empregos em
todo o mundo, e 850 mil vagas no Brasil, o que movimenta R$ 155 bilhões em território
nacional. “Podemos compreendê-la como um tipo de economia que tira proveito da abundância
de tecnologia, para gerar valor e utilizar conhecimento nos processos de
serviços. Ela aproveita a abundância de tecnologia de conexão — de tudo que a
gente tem hoje de ‘parafernalha’ tecnológica —, para juntar informação,
conhecimento e alterar os processos”, explica o coordenador do Instituto
Nacional de Telecomunicações (Inatel/ ICB LAB), Antônio Marcos Alberti.
Ele esclarece que o setor agrega ainda mais valor, em
virtude da popularização da internet e da computação, que trazem facilidades que
antes não existiam. “Hoje, ela está
muito mais dinâmica, mais escalável e globalmente
exponencial”, afirma.
CASO DE SUCESSO
Alberti narra o caso de sucesso, de projeto de cidade
inteligente, que surgiu por meio de edital entre o município de Caxambu (no Sul
de Minas Gerais) e o Banco Nacional Social (BNDES). Nele, a tecnologia é
utilizada na segurança pública, ao controlar a iluminação e monitorar os carros
que circulam na cidade. “Nós bolamos um aplicativo em que as pessoas podem
interagir com o sistema, entender o que está acontecendo e também reportar
situações. Envolver o cidadão, as empresas e as startups que estão no projeto é
um exemplo de como a gente constrói algo com várias pás”, diz. A combinação
entre tecnologia e criatividade mostra que é possível transformar a realidade
brasileira e agregar valor à economia. Um indício é o aumento pela procura de profissionais
que atuam na economia digital, com foco na criação de produtos e serviços
diferenciados para o consumidor.
Potencial de empregos Segundo estudo da Federação das
Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), denominada “Mapeamento da
Indústria Criativa no Brasil – Edição 2019”, o mercado de trabalho abriu 24 mil
vagas para profissionais digitais e inovadores. O levantamento mostra as
transformações da economia, caracterizada por novos modelos de negócio, hábitos
de consumo e relações de trabalho.
Quando o assunto é tecnologia, a 'economia criativa'
analisa as questões tecnológicas e oferece
soluções para eventuais problemas. Para o coordenador do mestrado profissional em
Gestão da Economia Criativa da ESPM-RJ, João Figueiredo, a constante integração
entre homem e máquina, bem como o desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA)
e da Internet das Coisas (IoT), projetam o fim de inúmeros postos de trabalho,
sobretudo, aqueles associados à simples reprodução de respostas padronizadas.
“Vai ser por meio da capacidade de criação e de
interpretação de dados que as empresas e profissionais vão permanecer
relevantes. Muitos profissionais deverão, cada vez mais, mobilizar suas
capacidades e suas competências criativas para se reinventarem permanentemente
no mercado profissional”, enfatiza. Embora seja relativamente novo, o modelo
econômico tem sido desenvolvido em diferentes países, desde a década de 1990. O
Reino Unido assumiu a Economia Criativa como estratégia de seu desenvolvimento,
em 1997.
Com entendimento, na época, de que houve perda de
competitividade global, o país adotou atividades criativas para obter destaque
na economia globalizada. Entre os que também enxergaram a Economia Criativa como
forte elemento de diferenciação no cenário mundial, estão na Austrália, Estados
Unidos e China.
Figueiredo lembra que, desde então, os países estão com
planos já em funcionamento e ajustes de desenvolvimento para se manterem na
vanguarda do tema. O Brasil teria ficado para trás no quesito. “Chegamos a ter
um plano desenvolvido em 2011, mas depois foi abandonado. O maior debate hoje,
sobre o assunto, está nas cidades e estados. Não é uma pauta para o futuro, já
está em curso, e quanto mais o Brasil demorar em assumi-la, mais atrasado em
termos de competitividade global ficará”, analisa.
FONTE: VENTURA E. & SANTOS L. . REVISTA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO, ANO 31 Nº 136 MAIO/JUNHO 2020 p. 28-33.
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